Ocorreu, ontem, o centenário do nascimento de Miguel Torga (1907-1995).
Que, além do mais, foi um grande e apaixonado amigo de Vilarinho da Furna.
Já, neste Blog, colocámos um dos seus poemas sobre aquela aldeia comunitária afundada (http://vento_norte.blogs.sapo.pt/4445.html).
Como singela homenagem, que, neste momento, a gente de Vilarinho lhe pode prestar, aqui fica mais um dos seus depoimentos sobre a nossa aldeia, num texto que escreveu aquando da sua visita a Cabora Bassa, em Moçambique, em 1973: "Aqui como em Vilarinho da Furna, como em Assuão, como em toda a parte. (...) Um lago imenso vai deixar sem deuses, sem mortos, sem berço e sem memória, milhares de criaturas. Milhões de pulsações cardíacas trocadas por milhões de quilovátios". (Miguel Torga, Diário XII, 2ª ed., Coimbra, 1983, p. 31).
Margot Dias, Miguel Torga, Andrée Rocha, Jorge Dias, José Fecha,
algures nos Montes de Vilarinho da Furna
(Clara Rocha, Miguel Torga - Fotobiografia, Dom Quixote, Lisboa, 2000, p. 103)
Requiem
Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.
Miguel Torga
Barragem de Vilarinho da Furna
18 de Julho de 1976
http://www.vidaslusofonas.pt/miguel_torga.htm
MA
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De Vilarinho da Furna à Aldeia da Luz...
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